O PIB potencial tem sido objeto de considerável debate entre economistas. As estimativas variam entre 1,5% e 2,5%, com os mais otimistas sugerindo, em 2021, um máximo de 1,5%. Essa discrepância, sem dúvida, contribuiu para os erros de previsão dos últimos quatro anos.
Relatórios recentes do mercado destacam as razões por trás dessas surpresas positivas, enfatizando a mudança estrutural no setor externo. Nos próximos anos, espera-se um aumento nas exportações, especialmente de grãos e petróleo, o que permitirá ao Brasil manter um maior nível de investimento, mesmo com uma taxa de poupança mais baixa.
A previsão de um saldo comercial próximo ou acima de US$ 100 bilhões nos próximos anos cria condições para que a demanda interna (consumo das famílias e do governo e investimento) cresça mais rapidamente do que o PIB sem pressionar as contas externas.
Em um ambiente de juros reais altos, os modelos econômicos tradicionais têm sido limitados na captura da dinâmica de curto prazo do setor externo. Uma abordagem alternativa, inspirada em Keynes e focada na demanda, é o modelo desenvolvido por Anthony Thirlwall, que relaciona o crescimento econômico de um país às taxas de crescimento das exportações e importações.
Esse modelo sugere que a taxa de crescimento de longo prazo de uma economia é determinada pela taxa de crescimento das exportações, dividida pela elasticidade-renda de longo prazo da demanda por importações. Por exemplo, se as exportações crescem a 6% e a elasticidade-renda das importações é 2%, a taxa de crescimento de longo prazo do PIB seria de 3,0%.
Ao considerar os insights dos relatórios de mercado juntamente com o modelo de Thirlwall, podemos inferir que a nova dinâmica do setor externo exigirá um aumento no investimento para lidar com a maior produção, resultando em um crescimento econômico mais robusto e maior arrecadação para o governo.
Existem várias maneiras pelas quais esse maior crescimento pode ser alcançado: aumento da produtividade no setor agropecuário, exploração de novas reservas de petróleo e expansão da produção de energias renováveis. Além disso, a continuidade das reformas microeconômicas iniciadas em 2016 é crucial.
Essa perspectiva de maior investimento e crescimento econômico, mesmo com uma taxa de poupança relativamente baixa, pode se concretizar se as autoridades se comprometerem com a disciplina fiscal.
Estamos diante de uma oportunidade para acelerar o ajuste fiscal e alcançar um superávit primário sustentável, especialmente através da eliminação de distorções tributárias e do respeito ao limite de despesas imposto pela nova regra fiscal ao longo do tempo.
O sucesso desse compromisso será avaliado pela melhoria tanto do resultado primário convencional quanto estrutural, conforme calculado pela Instituição Fiscal Independente (IFI). É importante notar que o cenário de contas públicas desfavoráveis herdado em 2016 foi construído ao longo do tempo, com a deterioração acentuada a partir de 2011, quando consideramos o resultado estrutural.
Entre 2016 e 2022, foram realizadas reformas estruturais nas despesas, mas há agora uma necessidade de aumentar a arrecadação, o que está sendo abordado pela equipe econômica atual através da correção de distorções tributárias.
Daqui para frente, é essencial retomar as reformas do lado das despesas, ajustando as regras de saúde e educação ao crescimento real das despesas proposto pelo arcabouço fiscal, e também reconsiderar a regra do salário mínimo, que não está alinhada com o novo marco fiscal.
Se essa agenda fiscal proposta pelo governo atual for seguida e as previsões baseadas na nova dinâmica do setor externo se confirmarem, poderemos finalmente vislumbrar uma década de prosperidade, em vez de uma década perdida.
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